MEMÓRIAS DA INFÂNCIA
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Sou amante desse desenho que achei na web, me traz boas memórias. |
Sabemos que as crianças saem de suas casas para as escolas carregando muito além de só mochilas com materiais pedagógicos/de aprendizagem; dentro cada um existe conhecimento de mundo; mesmo que esse este mundo seja só a cultura familiar na qual ela está inserida, é tudo que ela tem e isso não pode ser ignorado.
Devemos sempre nos referir a infância como um conjunto de fatores que incluem a família, a escola, pai e mãe, entre outros que colaboram para que haja determinados modos de pensar e viver essa concepção de infância. Andrade e Barnabé (2010) afirmam:
O termo infância apresenta um caráter genérico, cujo significado resulta das transformações sociais, o que demonstra que a vivência da infância modifica-se conforme os paradigmas do contexto histórico e outras variantes sociais com raça, etnia e condição social (ANDRADE; BARNABÉ, 2010, p.55).
Assim não podemos ignorar o desenvolvimento da criança como um ser ativo no seu espaço social como Sarmento (2007) diz que:
...] as crianças são seres sociais e, como tais, distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, a raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças (SARMENTO, 2007, p.10).
A minha infância tem as marcas da ausência dos meus pais por conta do trabalho. Então, passei a maior parte do tempo sendo cuidada por babás e parentes. Comecei na escola com 3 anos e o novo ambiente avançou ainda mais o meu desenvolvimento. Minha mãe era muito ligada no meu desempenho na escola, mesmo ocupada, sempre procurava estar por dentro de tudo. Ressalto aqui a importância da família junto a escola no processo de aprendizagem da criança. Içami Tiba (1996, p.140) diz: O ambiente escolar deve ser de uma instituição que complete o ambiente familiar do educando, os quais deve ser agradáveis e geradores de afeto. Os pais e a escola devem ter princípio muito próximos para o benefício do filho/aluno.
A escola foi o meu melhor lugar na infância; amava meus colegas, minhas professoras, as aulas de pintura mais ainda as de matemática. Sempre fui independente; minha mãe fez questão de me educar para não depender exclusivamente de outras pessoas para viver ou sobreviver (passei por altos e baixos no meu tempo de escola, mas… quem nunca?!). Aos 6 a cegonha deixou um menino na minha casa e então, me foi atribuída a função de irmã mais velha e/ou babá aos meus 9 anos de idade - estávamos passando por dificuldades e tivemos que reduzir os gastos em casa; um deles era as babás (foram mais de 6 em 3 anos). No estudo de antropologia da criança, vemos que as crianças se desenvolviam em relação com os adultos e eram vistas como adultos; a cultura (definindo aqui cultura como algo que é transmitido de geração em geração) de que “crianças precisam aprender a ter responsabilidades” era muito presente na minha família. Clarice Cohn em seu artigo sobre Concepções de infância e infâncias conclui dizendo, devemos sempre levar em conta que, de um lado, a concepção de infância informa (sempre) as ações voltadas às crianças – e, de outro, que as crianças atuam desde este lugar seja para ocupá-lo, seja para expandi-lo, ou negá-lo... É a partir dele que agem ou é contra ele que agem. (COHN, 2013 p. 241). Na época, eu odiava ser a criança responsável por outra criança e pela casa. Hoje sou mais madura no quesito “ser responsável” (mesmo falhando ás vezes, confesso), por conta desse processo.
Termino o meu memorial indagando os meus leitores: Até qual ponto uma criança pode ser autônoma e/ou responsável por algo? Deve lhe ser atribuída uma alta função tão cedo?
Eu não tive escolha. Querendo ou não, eu vivi em função disto. E agradeço aos meus pais por terem me ensinado tanto neste processo.
O meu desejo é que as crianças vivam livres, de maneira pura, a infância e tudo que nela está incluído. Que seja a fase mais leve e feliz.
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